Tesouro Direto: A Cilada do Tesouro Renda Mais 2065?
O Tesouro Direto é, sem dúvida, uma das portas de entrada mais populares para o mundo dos investimentos no Brasil. Títulos como o Tesouro IPCA+ são frequentemente recomendados por influenciadores e analistas, e muitos investidores veem o Tesouro Renda Mais 2065 como uma oportunidade de ouro para o longo prazo. Mas será que essa visão otimista se sustenta na análise dos dados econômicos atuais?
Segundo o especialista Vinícius Mariño, a aposta na valorização desses títulos pode ser uma verdadeira "cilada". A tese de que "a história se repetirá" e os juros de longo prazo despencarão, como aconteceu no passado, ignora as profundas mudanças no cenário econômico brasileiro. A valorização de 200% em 4 anos vista entre 2016 e 2019 foi um evento excepcional, impulsionado por um contexto que não existe mais.
Para entender a diferença, precisamos olhar para três indicadores chave:
1. O Hiato do Produto:
- 2016-2019: O Brasil vivia um hiato do produto negativo, o que significa que o PIB efetivo estava abaixo do seu potencial. Nesse cenário, o crescimento econômico não gerava pressões inflacionárias, permitindo que as taxas de juros caíssem.
- Hoje: Vivemos um hiato do produto positivo. O PIB efetivo está acima do potencial, o que torna o ambiente inflacionário. Qualquer crescimento tende a ser acompanhado por inflação, o que impede uma queda significativa dos juros.
2. A Oferta de Moeda (M2):
- 2016-2019: O crescimento da oferta de moeda (M2) era baixo, em torno de 6% ao ano, o que ajudava a conter a inflação.
- Hoje: Nos últimos anos, o M2 cresceu de forma acelerada, atingindo 20% em 2022. Essa enorme injeção de liquidez, somada a uma capacidade produtiva estagnada, funciona como um "combustível inflacionário" que tende a manter os juros elevados.
3. A Dívida Pública:
- 2016-2019: A dívida pública em relação ao PIB estava em um movimento de estabilização e queda, o que sinalizava responsabilidade fiscal e atraía investidores.
- Hoje: A dívida está em crescimento e o país enfrenta um déficit nominal expressivo. A maior parte da dívida está indexada à taxa Selic, o que sugere a crença do mercado de que a taxa básica de juros não vai cair no longo prazo. O Brasil, inclusive, tem os maiores pagamentos de juros do mundo em relação ao seu PIB.
Conclusão: Apostar em Esperança, Não em Dados
A tese de que o Tesouro Renda Mais 2065 se valorizará rapidamente é baseada mais na "esperança" de que a história se repita do que em uma análise sólida do cenário econômico atual. A combinação de um hiato do produto positivo, uma oferta de moeda crescente e uma dívida pública em expansão aponta para um futuro mais inflacionário, tornando a queda acentuada dos juros de longo prazo um cenário improvável.
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